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Amor é lindo. Às vezes.

O amor tem cara de bicho

Oi, Leitor. Vou te chamar assim, de Leitor, com essa maiúscula aí na primeira letra porque não sei o seu nome próprio, então vou te batizar de Leitor até que eu descubra seu nome. Isto é, caso você queira se identificar ao final deste texto. Fique absolutamente à vontade quanto a isso, pois eu estou totalmente confortável aqui, falando e você aí, lendo, mesmo sem talvez a gente ainda nem se conhecer.

Então, Leitor, eu não sei quantas vezes você já acessou esse blog, quantos textos já leu, não sei qual é o seu perfil, qual o seu estilo preferido de narrativa, não sei o que você espera encontrar quando você entra num site chamado “amor crônico”, mas, me colocando no lugar de alguém que entra aqui pela primeira vez, suponho que espere encontrar textos falando sobre amores crônicos. Viajei? Ou para você, a palavra crônica é só uma alusão ao gênero de narração?

Fato é que andei lendo nossos textos (incluindo os meus) mais criticamente – e agora corro o risco de ir para o paredão das escritoras e ser eliminada deste espaço crônico pelas minhas parceiras autoras – e notei que andamos falando mais do amor em sua beleza e plenitude do que propriamente em sua essência crônica e aguda. O que me levou a pensar: o amor sempre é belo, a vida sempre é bela, nós somos todas belas ou andamos floreando um cadinho a vida pra ela ficar mais agridoce?

É claro que todas nós temos vidas distintas e vivemos momentos distintos. De modo que vivenciamos o amor de forma absolutamente diferente umas das outras a julgar pelo momento que atravessamos. O mesmo vale para você, Leitor, que pode se identificar ou não com o que você está lendo dependendo da fase que você está atravessando agora, certo? Certo.

Sendo assim, caro Leitor, deixo aqui um aviso para que você decida prosseguir ou não adentrando comigo por entre essas linhas retas repletas de raciocínios tortos: este texto é sobre o amor num estilo mais próximo ao de Miguel Esteves Cardoso em “O Amor é Fodido” ou ao de Charles Bukowski em “O Amor é um Cão dos Diabos”. Obviamente não me comparando a nenhum desses dois gênios literários, apenas fazendo uma singela menção a abordagem de amor feita por eles nesses clássicos. Não se preocupe, pois você não precisa ter lido nenhum desses livros para saber que não estamos falando aqui do amor na sua forma mais poética e romantizada, uma vez que os títulos são totalmente autoexplicativos, não é mesmo?

Eu, que já falei do amor tantas vezes, eu, que sou criatura assumidamente sentimental e passional, eu, que acho o amor uma coisa tão linda, essencial, esplêndida, maravilhosa (e creia-me: não existe qualquer vestígio de ironia nessa afirmação), eu, que preciso de amor para viver, eu, que acredito em toda forma de amor, eu, que aposto todas as minhas fichas no amor, devo assumir: o amor, muitas vezes, é mesmo um cão dos diabos.

Você, Leitor, que ainda continua aí, não se sinta mal por achar que o amor, às vezes, passa longe de ser divino. Você não está sozinho. Alguma vez você sofreu por amor, Leitor? Sofreu, né? E quando isso aconteceu, alguém deve ter dito a você que se fosse amor de verdade, não te traria sofrimento, não é? Pois é. Mas isso não é verdade! O amor quase nunca é um mar de rosas. Que o amor é fogo (que arde e não se ver e blá blá blá…) todo mundo sabe, mas se ele vai aquecer o seu coração ou se vai incendiar a sua casa, nunca se sabe. Algumas vezes ele vai te levar ao céu. Outras vezes, direto para o inferno, sem escalas. Amor é coisa de matar e morrer, de fazer muita gente sã perder o juízo, a cabeça e até o famigerado amor próprio.

Têm dias que amar é o maior desafio de todos, têm dias que amar é um verdadeiro ato de coragem. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Beleza. Bora amar o próximo, mas dá pra não ficar tão próximo assim, por favor? Imagine-se amando aquele seu “colega” filho da puta lá da firma, aquele cretino que te deu uma fechada no trânsito hoje mais cedo ou aquele safado que se aproveitou para te dar aquela roçada básica no ônibus lotado hoje de manhã. Pois é.

Nem precisamos ir tão longe, né Leitor? Às vezes é difícil amar até mesmo quem a gente ama muito, muito mesmo. Quem normalmente a gente ama genuinamente, sem precisar fazer qualquer esforço. Você me entende, Leitor? Sabe aqueles dias que amar o seu próximo mais próximo vira uma verdadeira missão? Amar seu filho lindo quando ele esgota toda a sua paciência. Amar sua mulher incrível quando ela está no auge da TPM. Amar seu maridão quando ele faz aquela grosseria gostosa e gratuita com você. Amar a sua simpática sogra ou a sua adorável mãe quando elas se intrometem desenfreadamente na sua vida. Amar o seu cãozinho fofo quando ele faz cocô no seu tapete persa. Amar o seu gatinho quando ele destrói o seu sofá novinho.

Entenda uma coisa, Leitor: amar é uma arte. Agora, entenda outra coisa: não é todos os dias que acordamos artistas. Ou vai me dizer que você se sente sempre inspirado, Leitor? Que todos os dias seu coração está cheio de amor pela vida e por todos os seres vivos? Bom, então vou para de te chamar de Leitor e vou passar a te chamar de “E.T.” a partir de agora, pode ser? Corta essa! Só estamos eu e você aqui, não tem ninguém olhando, não precisa fazer cena!

O amor costuma exigir sacrifícios enormes e eventualmente ele vai deixar o seu coração partido, em frangalhos. O amor não vai ser lindo todos os dias. Eu aposto que você sabe disso, Leitor, mas se você ainda não sabe, eu, que já criei certa afinidade contigo depois de todas essas linhas, me sinto na obrigação de te alertar: têm dias que o amor vai ser fodido, amaldiçoado, dolorido, feio e vai ter cara de bicho.

Ele vai te meter medo, vai te assustar e te fazer sentir dores em partes do seu corpo que você nem supunha que existiam. Mas sabe o que é mais louco nisso tudo, Leitor? É que essa porra de amor continua sendo a coisa mais alucinante, maravilhosa e intensa que eu, você e qualquer ser humano já chegou perto ou vai chegar de sentir na vida. No fim das contas, Leitor, o amor é o que faz da gente parte de um mesmo todo, é que nos aproxima e me faz estar aqui escrevendo e você aí, lendo. É o que faz a gente começar tudo de novo, todos os dias, apesar de tudo, apesar de todos, apesar de mim e de você.

Vai entender, Leitor, vai entender…

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