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Sê criativo: a mente brinca

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Muitos livros são convites para o leitor sair do papel de espectador e encher seus pulmões de energia necessária para brilhar, tomar posse de seu lugar no palco e integrar o espetáculo da loucura do viver. Dentre eles – Ser Criativo: O Poder da Improvisação na Vida e na Arte, de Stephen Nachmanovitch. Considero este livro uma poesia composta por pitadas de entusiasmos e o vejo como uma mão estendida que fala: não tenha medo, se joga!

Depois de ler e reler o Ser Criativo, pensei e repensei sobre o tema e, por fim, divaguei sobre tantos aplausos à miséria e aos ícones que se consagram, de tempos em tempos, enquanto muitos assopram suas próprias chamas, esquecendo-se, talvez, de suas originais cores vibrantes, temendo o brilho próprio e enaltecendo o alheio, que por sua vez também só é chama pelo enaltecer daquele que desistiu de subir no palco da vida, aceitando migalhas de uma vida morna, morta e bege.

Nachmanovitch relata que a mente criativa brinca com os objetos que ama. O pintor, por exemplo, brinca com a cor e o espaço. O músico brinca com o som e o silêncio. Eros brinca com os amantes. Para ele, brincar é ter o espírito livre para explorar, ser e fazer por prazer. A musa mais poderosa, que é a nossa criança interior, é lembrada neste livro. Essa musa é inquieta, questionadora. Indaga sempre: o que, de fato, faz seu coração bater mais forte? O que almeja e não faz? O que será que permanece na sombra?

O autor, que não esquece de discorrer sobre os bloqueios à criatividade, relata que “a lição mais simples desta vida – e ao mesmo tempo a que nos escapa com maior facilidade – é aprender a ouvir a voz da intuição”. E complementa que quando falamos de confiar em nossas vísceras, é de intuição que estamos a falar como base na tomada de decisões.

Numa vida criativa não há ponto de chegada porque é uma jornada para dentro da alma. O processo criativo é uma aventura que fala de nós, de nosso ser mais profundo, do criador que existe em cada um.

Será que se cada um respeitasse seu próprio brilho, enalteceria tanto o brilho alheio? Será que enriqueceríamos um mísero nicho? Divagações… inquietações… Falta o despertar dessa escuta à própria voz interior? Falta o reconhecimento do monstruoso potencial que habita cada um de nós, residentes do mesmo espaço insano? O que está sendo aplaudido com mais frequência?

Aqui o que cabe são perguntas para inesgotáveis respostas. Que há estrelas cintilantes que desfilam nessa terra não há incertezas. Essas são alimentadas cotidianamente. E Ser Criativo é deixar de aplaudir só porque os outros aplaudem, é deixar de ser bege, é ir de encontro ao que o próprio coração bate mais forte. Ser Criativo é ser original, viver em consonância com os próprios gostos. É não seguir a moda, é mudar a vírgula de lugar, é inventar palavras ou reinventá-las!

A arte da vida talvez consista em Ser Criativo e não descartar os poemas contidos em cada dia. Folheando as páginas desse livro encontrei uma citação de William Carlos Williams que diz: “Não é fácil encontrar novidades em poemas; mas os homens morrem miseravelmente todos os dias por falta do que neles existe.”

Carece-se de poesia, meu caro, repara! Repara bem antes de morrer miseravelmente pela falta de embriaguez que a poesia provoca e cria a tua vida!

Por Patrícia Rodrigues

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A culpa é dos meus pais

cultura1Se eu adoro programas culturais a culpa é dos meus pais. Eles nos levavam ao cinema e ao teatro. Todas as vezes que íamos ao zoológico tínhamos que visitar o museu. Também íamos à praia, é verdade. Mas quando o sol ficava muito forte eles nos vestiam e iam correndo para a Fortaleza de Santa Cruz. No verão íamos praticamente todos os domingos e tínhamos a fala dos soldados decorada. Circo, Bienal do livro, livrarias, igrejas, construções antigas, sempre estavam na nossa programação.

Se eu adoro visitar pontos turísticos a culpa é dos meus pais. Faziam questão de nos levar ao Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Jardim Botânico, Quinta da Boa Vista, Maracanã, Sambódromo, Vista Chinesa. Além de nos apresentar cada pedacinho da cidade onde vivemos: Niterói. E, por falar nela…

Se eu amo Niterói a culpa é dos meus pais. Eles nos ensinaram a olhá-la com olhos de turistas. Eles nos levaram além das praias. Conhecemos o Parque da Cidade, o Museu de Arte Contemporânea, o complexo de fortes, o Campo de São Bento. E, assim, aprendemos que o Rio de Janeiro pode ser uma cidade maravilhosa, mas Niterói é a melhor do Rio!

Se eu gosto de ler revistas a culpa é dos meus pais. Todo domingo eu e minha irmã acompanhávamos o meu pai na compra do jornal. Ganhávamos figurinhas e revistas em quadrinhos. Eu gostava tanto de revistas que durante a semana confeccionava as minhas até em sala de aula. Coisa de profissional, com seções e tudo. À medida que fui crescendo o tipo de revista foi mudando, mas leio até hoje.

Se eu sou apaixonada por Literatura Portuguesa a culpa é dos meus pais. Acho que nenhum deles leu Eça de Queiroz ou Camilo Castelo Branco, mas, sempre compravam livros desses autores. E, curiosa, lia todos. Meu escritor favorito é José Saramago e o livro da minha vida “Ensaio sobre a cegueira”. Mas tenho para mim que se não fossem os livros dos autores portugueses guardados na estante da sala de casa, Literatura Portuguesa são teria tanta importância na minha vida.

Se eu gosto de arte a culpa é dos meus pais. Mais da minha mãe, para dizer a verdade. Nunca leu histórias da Disney, sempre contou histórias inventadas por ela mesma, cheias de aventuras. E ainda fazia verdadeiras encenações! Também estimulava que brincássemos de massinha de modelar e desenhássemos.

Se eu não vivo sem doces a culpa é dos meus pais. Meu pai comprava tudo aos montes: caixas de chicletes, pacotes de balas e sacos de 1kg de bombons. Minha mãe fazia brigadeiros, bolos, tortas, quindins, sonhos. Os doces mais gostosos que você puder imaginar ela sabe fazer. E sempre fazia! Quando eu visitava alguém e as crianças tinham a quantidade de doce limitada eu não conseguia entender e morria de pena. Bom era ser criança lá em casa!

Se eu gosto de programas ao ar livre a culpa é dos meus pais. Inventavam piquenique, com direito a toalha xadrez e cesta de vime. Saíam cedo de casa e nos levavam em cachoeiras, praias e parques. Hoje eu frequento shopping, claro, mas me angustia não saber se chove, faz frio ou calor do lado de fora. E não gosto de lugares sem janela. Aprendi a ver a cor do dia e a observar como está o mundo lá fora.

E você, o que aprendeu com os seus pais?

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