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Cuidado com o que você deseja

audray

Era uma vez um casal que desejava muito ter filhos e não conseguia. Fez vários tratamentos, tentou de todas as formas e, não conseguindo, resolveu adotar uma criança. Hoje só fazem discutir por causa do filho e reclamar que a criança é uma peste.

Era uma vez uma mulher que desejava ser promovida a gestora. Estudou, se dedicou ao trabalho e conseguiu. Pouco tempo depois de ter comemorado a promoção estava se questionando se o cargo de liderança era para ela, se era mesmo competente para isso e se estava mais realizada agora.

Era uma vez uma mulher que sonhava em casar. Encontrou o amor da sua vida, fez uma linda festa e viajou para Europa na lua de mel. E foram felizes para sempre. Mentira. Ela está entediada, frustrada que o marido não colabora com as atividades domésticas, brigam constantemente e não quer nem comemorar o aniversário de casamento.

Era uma vez uma mulher que queria ser engenheira. Estudou muito, passou no vestibular, concluiu o curso com louvor e agora está sofrendo com a falta de oportunidades na sua área, os baixos salários e as condições oferecidas para trabalhar. E se culpa por não ter feito outro curso.

São quatro histórias cotidianas. Mas poderia ser muito mais. Você mesmo já deve ter feito muita questão de alguma coisa e, ao conquistar, conheceu a frustração de ter o que queria. Ou conhece alguém que depois de uma conquista está se lamentando justamente pelo que acreditava ser o que faltava para a sua completa felicidade.

Em relação aos exemplos apresentados, a culpa não está na criança adotada, na promoção dada, no casamento ou na conclusão de um curso. Nem nos protagonistas terem desejado ser pais, chefe, esposa ou ter uma graduação. Está na nossa capacidade de imaginar que conquistas são objetos inanimados e acabados quando são apenas o começo de uma nova caminhada.

Todas as conquistas trazem consequências, responsabilidades e situações que não havíamos imaginado antes de ter conseguido realizar nossos sonhos. A vida não é uma sequência de cenas perfeitas, com realizações seguidas de momentos de paz, serenidade e felicidade plena.

Tudo que desejamos pode se tornar, de uma hora para outra, em algo desesperador. Ou se mostrar muito diferente do que idealizamos. Nesse momento muitos se tornam amargos: se arrependem e reclamam dos filhos que tiveram, do casamento conquistado, da promoção tão sonhada, da graduação escolhida. Outros se abrem a novos aprendizados, repensam sua existência, abrem a mente e compreendem que o fascínio da vida está justamente naquilo que não foi idealizado. E seguem felizes.

Tenha em mente que o que você deseja é sempre muito mais e maior do que o seu desejo. E neste momento, ainda que não seja exatamente como você idealizou, pode vir a ser muito melhor. Basta você aceitar o desafio, repensar e aprender com as oportunidades que a vida dá.

É sempre muito melhor conquistar o que queria do que ficar a vida toda imaginando como seria.

“Cuidado com o que você deseja, pois você vai obter.”

Goethe

Crônica publica em 11 de janeiro de 2017 no blog pessoal da autora.

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Para amar é preciso parar de jogar

xadrez

Todo mundo já leu ou ouviu que não há bula, receita, fórmula mágica ou regras para construir e viver um relacionamento amoroso. Ainda assim, no entanto, vemos constantemente pessoas utilizando-se de jogos, artimanhas, interpretações, insinuações e ações premeditadas para conquistar alguém.

Quer exemplos? Não ligar no dia seguinte para não demonstrar interesse, não ter relações sexuais na primeira noite para não parecer fácil, não atender telefonemas para não parecer desespero, mandar mensagem em uma hora determinada para causar impacto, não apresentar a família para não insinuar relacionamento, não firmar relacionamento para não demonstrar que gosta da pessoa. E tantas coisas mais.

Ou seja: muitas pessoas lidam com o amor como se fosse um jogo. Em que um perde e o outro ganha. Em que um deles se apaixona depois de várias táticas. Em que se apaixonar é um ato de fraqueza. Em que é necessário deixar sempre alguém disponível, guardado na estante. Em que conquistar alguém é mais importante do que viver um relacionamento. Em que dizer o que sente é errado.

Basta olhar para os lados e observar que maior parte das pessoas deseja um amor, mas faz de tudo para não se envolver emocionalmente. Tentando manter o controle da situação, direcionando técnicas de conquista, evitando demonstrar seus sentimentos e se relacionando com mais de uma pessoa ao mesmo tempo para não se apegar a nenhuma.

Desde que ninguém esteja sendo enganado e não haja promessas, não há mal nenhum em “pegar sem se apegar”. É inclusive de uma honestidade admirável deixar claro que não quer ter um relacionamento naquele dado momento. Mas se você quer um amor, você está fazendo tudo errado. Para amar é preciso se apegar.

Atenda o telefonema, ligue no dia seguinte e perca o medo de fazer papel de ridículo. Porque amar é ser ridículo mesmo. Amar não combina com jogos de conquistas, ações predeterminadas, comportamentos ensaiados. Amar é não controlar os sentimentos. É se deixar levar por cada um deles.

Se você quer amar, pare de jogar. Pare de ensaiar. Pare de formular frases. Pare de dizer não quando quer dizer sim. Pare de fingir. Pare de demonstrar o que não é.  O amor não depende da leitura da arte da guerra. Depende de sentimentos. Depende de ouvir o coração.

O amor acontece quando menos se espera. Mas só para quem está convencido de que a lógica e a razão não combinam para as coisas do coração. Só para quem para de jogar.

“Quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração? E quem irá dizer
Que não existe razão?”

Renato Russo

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