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“Eu estudo para ser mãe”

Esta semana, durante o almoço, eu me sentei em uma mesa com três mulheres desconhecidas que conversavam sobre os filhos e os desafios da maternidade. Mesmo se eu quisesse não teria como não ouvir a conversa e fiquei acompanhando.

Pelo que conversavam eram mães de crianças ainda pequenas e trocavam informações sobre comportamento infantil. Uma delas tinha ido em uma palestra e apontava atitudes comuns a mães de primeira viagem que atrapalhavam o desenvolvimento dos filhos. Ainda citou e indicou alguns livros.

Em um dado momento da conversa, depois de ser questionada sobre a eficácia da Comunicação Não-Violenta com as crianças, essa mulher respondeu “eu estudo para ser mãe!”. Eu nem sei descrever o que senti naquele momento! Lembrei dos tantos livros que comprei quando o meu filho era criança e o quanto julgamos que a maternidade é um dom que todas as mulheres têm.

Pesquisamos e estudamos sobre tantas coisas, mas somos levadas a acreditar que, com uma criança nos braços, saberemos o que fazer. Instintivamente. Automaticamente. Milagrosamente. Que saberemos interpretar todas os comportamentos dos filhos e suprir todas as necessidades.

É claro que, mesmo lendo os melhores livros sobre Educação Infantil, indo em palestras, assistindo vídeos e filmes, algumas soluções são terão sido descritas. Ou não saberemos identificar no momento exato em que acontecem. Mas estudar ajuda sim. Ou, na pior das hipóteses, nos torna mais humildes diante da maternidade.

Filhos não são extensão dos pais, não devem suprir nossas expectativas, não nasceram para fazer nossas vontades e simplesmente obedecer a nossos caprichos. Por outro lado, não somos escravos dos filhos. É difícil lidar com os caprichos da infância com equilíbrio, ensinando autonomia e independência.

Ninguém nasce mãe. A cada dia que passa aprendemos um pouco mais. E julgar que não sabemos tudo, que podemos falhar, que temos como aprender, que existem pesquisas que podem auxiliar só demonstra que temos, além da enorme vontade de ser uma mãe melhor para nossos filhos, todo amor do mundo em nosso coração.

Ler sobre maternidade, desenvolvimento e educação infantil, ainda que na prática a teoria seja outra, nos ensina a amar sem soberba e autoritarismo. E, principalmente, a identificar quando os filhos precisam de ajuda profissional.

Crônica publicada no blog de Giseli Rodrigues em 16 de junho de 2019.

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Excesso de amor não faz mal à ninguém

“Será que agi certo?”, “respondi uma pergunta quando deveria calar?”, “fui muito rígido – ou muito permissivo?”, “deveria estabelecer mais regras?”, “pequei por não ter obrigado a fazer determinada tarefa?’, “o castigo foi a melhor alternativa?”. Educar uma criança é uma responsabilidade enorme e, não por acaso, os pais convivem com a culpa, insegurança, incerteza e dúvida. E acho isso ótimo.

Questionar as próprias atitudes é um legítimo ato de humildade. É repensar a maneira como foi educado e avaliar se ainda cabe aos dias atuais. Pessoas criadas com muita rigidez talvez desejem criar os filhos com mais leveza. Filhos de pais autoritários talvez queiram uma convivência mais democrática. Pessoas que tiveram pouca atenção talvez queiram ser mais presentes. Outras que tiveram acesso a muitos bens materiais talvez queiram oferecer uma infância mais simples aos pequenos.

Não há receitas, fórmulas ou dicas infalíveis para ser pais incríveis. Mas, ainda assim, arrisco a dar um conselho: não economize amor. Não deixe de demonstrar afeto, dizer eu te amo, abraçar, acolher, elogiar, olhar nos olhos da sua criança, por menor que ela seja, e dizer o quanto ela é importante, especial e única. Amor não faz mal à ninguém.

Constantemente ouço críticas em relação a pais que escutam seus filhos, procuram entende-los, fazem suas vontades quando possível e demonstram afeto. “Essa criança vai ficar mimada”, dizem eles. Mas o que é mimo senão cuidado, carinho e atenção? E não é disso que as crianças precisam?

Quer saber? Mimem seus filhos. Façam a comida que eles gostam, brinquem juntos, deixe o dever de casa para depois, leia a história pela décima vez, assista o mesmo filme pela milésima. Crianças mimadas serão adultos que não sabem lidar com a frustração, alegam alguns. Mas a verdade é que não conheço ninguém que saiba. Ninguém se prepara para a frustração, porque cada um vai se frustrar por algum motivo, não importa a idade. E terapeutas estão aí para ajudar as pessoas a lidar com tudo isso no futuro.

A infância não tem que ser treino para a guerra nem estágio para situações difíceis e desconfortáveis. Até porque, uma criança criada na base do medo, dor, castigo, insegurança e gritaria crescerá acreditando que essa é a maneira correta de agir, se comportar e se posicionar diante da vida: de maneira amarga, desconfiada, agressiva.

Os pais devem dizer não quando necessário, corrigir condutas inoportunas, cobrar responsabilidades, exigir respeito, mostrar que crianças não têm sempre razão, ensinar a dividir, ouvir os outros, a ser tolerante. Mas tudo isso pode ser feito com amor. Com abraço e carinho. Já vi muita gente irritada com filhos irrequietos e afeitos a gritarias, sendo eles pessoas que não sabem conversar a não ser por gritos.

Não adianta pedir calma a uma criança se você vive nervoso. Não adianta pedir para criança escutar se você não escuta. Não adianta ensinar a dizer a verdade se você mente. Ou pior: pede que a criança omita informações ou minta para outras pessoas. Não adianta dizer que ela precisa respeitar regras se você desrespeita muitas. Não adianta falar de pontualidade se você vive atrasado.

Ou seja: seu melhor discurso não vale nada se seu comportamento é exatamente o exemplo contrário de tudo que prega. Não existem pessoas perfeitas, claro. E pais são pessoas, não super-heróis. Mas são pais melhores aqueles que tentam a cada dia ser um pouco melhor como gente, demonstram suas fraquezas e compreendem que mesmo com seus próprios filhos eles podem aprender alguma coisa.

Crianças são crianças. Precisam aprender a esperar, saber que não vão ter todas as vontades satisfeitas, que nem sempre têm razão, que os pais não podem dar tudo que pedem, que a rotina deve ser respeitada, que as tarefas devem ser feitas e que não mandam na casa e nos adultos. Mas dá para ensinar tudo isso com amor, carinho e atenção. E principalmente: ouvindo o que a criança tem a dizer.

O tempo passa muito rápido. Mal nos damos conta os filhos estão adultos. Portanto não perca tempo de convívio impondo uma rigidez desnecessária. Abrace quando o choro da criança vier, vá na escola saber exatamente o que aconteceu quando o filho relatar um problema, não julgue perda de tempo assistir um filme infantil, segure na mão quando ele sentir medo, não mande engolir o chore nem parar de chorar. Demonstrar sentimentos é saudável e faz bem à saúde. Física e mental.

Se, fatalmente, pais cometerão erros na educação de seus filhos, que errem amando e não deixando dúvidas de que seus filhos são amados e importantes.

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Você não é superior a ninguém

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Nenhum de nós sabe se existe uma razão para estarmos neste planeta. Se existe vida após a morte, se vamos para o inferno ou paraíso, se existe reencarnação ou vida eterna, é tudo mistério. Mas temos muitas crenças, fé e explicações, ainda que não científicas, para justificar a nossa existência.

Podemos acreditar que nascemos por um motivo, que temos uma missão ou um karma. Podemos acreditar que seremos punidos pelos pecados, que vamos ressuscitar um dia, que cristo irá voltar. Ou não acreditar em nenhuma dessas coisas. E tudo bem. Cada um de nós tem a sua fé, a sua religião, a sua espiritualidade. Errado é julgar ser superior por ter uma crença diferente ou por não ter nenhuma.

São muitos os exemplos de pessoas que acreditam ser superiores e mais evoluídas do que outras. Pelas razões mais diversas. Lê muito e se acha mais inteligente do que quem não lê. Não assiste televisão e julga ignorante quem gosta de assistir. É vegetariano e considera errado quem come carne. Faz atividade física e acha preguiçoso quem não faz. Faz uma dieta balanceada e condena quem come o que quer. Fez faculdade e menospreza quem não vê relevância em fazer um curso superior.

Há quem não queira ter filhos e julga inconsequente quem tem muitos. Ou tem muitos e considera desalmado quem não quer ter nenhum. Dirige e não vê sentido em quem não sonha com uma carteira de habilitação. É rico e se considera melhor do que as pessoas que não são. Fala idiomas e julga incapaz quem nunca aprendeu nenhum. Escreve bem e ridiculariza quem não escreve dentro das normas.

Essas pessoas, além de chatas e inconvenientes, se acham superiores, melhores e mais evoluídas do que aquelas que agem e pensam de maneira diferente da delas. Mas quantas vezes nós já consideramos ignorantes, incultos, grossos e qualquer outra coisa, quem não está de acordo com a nossa maneira de agir e pensar? Somos humanos. Falhos. Errantes. E precisamos estar atentos aos nossos comportamentos. A ideia de que somos superiores aos outros só nos torna preconceituosos, intolerantes e egocêntricos.

Não é muita prepotência achar que só a nossa maneira de ver o mundo é a correta? Com tantos deuses julgar que só o nosso salva? Que com milhares de dietas só a nossa funciona? A ideia de que somos superiores nos distancia dos outros. E de nós mesmos. Menosprezando as diferenças que nos rodeiam, acreditando ser melhores, mais evoluídos, mais inteligentes ou mais qualquer outra coisa, nos fechamos para novas experiências e conhecimentos. Perdemos a oportunidade de ver o mundo sob uma perspectiva diferente.

Valorizar o que somos e nos orgulhar do que nos tornamos é positivo. Mas precisamos ter a exata noção de que somos apenas mais uma gota nesse oceano chamado mundo. Que não somos nada além de pessoas comuns, que ainda estamos em contínuo aprendizado e temos muito mais a aprender. Que, como já disse Paulo Freire, “não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.

Superiores e melhores são as pessoas que não julgam, não ridicularizam e não condenam ninguém. Que respeitam as diferenças, são empáticas e capazes de aceitar os outros como eles são. E estes, tenho certeza, não se julgam melhores do que ninguém.

Vamos guardar nosso ego num potinho e tentar ser melhores do que somos. Um pouco mais a cada dia. Todo dia.

Crônica publicada originalmente no blog de Giseli Rodrigues no dia 25 de janeiro de 2017.

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Ensine pelo amor

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Estou certa de que aprendemos muito com a dor. A dor da perda, da traição, do fracasso, da agressão, da frustração, do erro, da reprovação. Mas se a vida não nos poupará de sofrer, por que devemos ensinar pela dor e não pelo amor? Por que gritar? Ridicularizar? Oprimir? Ofender? Bater?

Enquanto muitos dizem que amar demais estraga, estou cada vez mais convencida de que é a falta de amor que torna adultos insensíveis, violentos, desequilibrados e desajustados. Como alguém que não recebeu amor pode saber o que é amar? Quem recebeu muitos beijos e abraços, brincou com os amigos, recebeu elogios, ganhou presentes, costuma reproduzir isso com as pessoas à sua volta.

Sem dúvida algumas pessoas que passaram por situações difíceis na vida, tais como abusos, agressões, fome, discriminação, impedimento de estudar, conseguem ser adultos que julgam essas atitudes reprováveis e agem de maneira diferente com os familiares, amigos, colegas de trabalho e todas as pessoas que passam por suas vidas.

Outras, no entanto, reproduzem o padrão que conheceram e são agentes do mal. Por não terem conhecido o amor propagam desrespeito, traição, vícios, abusos, violência. De toda ordem e de todo tipo. Estão certas de que esse é o único jeito de viver. Ou pior: que se foram capazes de passar por situações lamentáveis os outros precisam passar também. Para aprender a ser gente.

Quando cuidamos, protegemos, conversamos ao invés de agredir, respeitamos a opinião do outro e valorizamos o seu sentimento ensinamos que as pessoas têm importância, merecem ser respeitadas e devem ser amadas pelo que são. Crianças amadas tornam-se adultos mais equilibrados, otimistas, que têm amor-próprio e desejam o bem para si e os outros.

É claro que seres humanos não são equações matemáticas. Cada um se comporta de uma maneira diante das experiências vividas, sejam elas boas ou ruins. Mas podemos observar que adultos desajustados geralmente são frutos de relações perturbadas. Por isso mesmo confio no poder do amor. Para mim não faz sentido bater em uma criança que agrediu um amiguinho na escola para ensiná-la que isso é errado, nem gritar para que ela faça silêncio, por exemplo.

Por mais que digam que não, é possível educar as crianças e adolescentes sem violência, sem tapas, sem gritos, sem sair da razão, sem demonstrar prepotência. Porque criar qualquer um consegue, mas educar exige muito amor. Aquele amor que não se esgota e cresce a cada dia.

Independente de sermos pai, mãe, chefe, colega de trabalho, vizinho, aluno, professor, cônjuge, cliente, vendedor, amigo, podemos ensinar por meio do amor. Do apoio, do incentivo, do abraço, das palavras carinhosas, da confiança, do respeito, da aceitação, da empatia. Não precisamos ser santos, mas, definitivamente, precisamos nos esforçar para ser gente.

Se as pessoas irão se comportar de maneira inadequada diante de nossa manifestação amorosa a culpa não é nossa. E a vida se encarregará de ensinar por meios dolorosos.

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