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Parem de tratar marido como filho

Eu vejo mulheres sobrecarregadas todos os dias. Mulheres que estudam e trabalham tanto quanto seus maridos, ou mais, e ainda se sentem responsáveis por chegar em casa, fazer o jantar, pôr a mesa para família e aprontar as coisas dos filhos para o dia seguinte.

Sabemos que amar dá trabalho. Que relação exige cuidados. Que filhos precisam dos pais. Mas geralmente só quem cuida, quem tem trabalho e se preocupa com a cria é a mãe. E isso precisa mudar. A educação dos meninos precisa mudar, as escolas precisam mudar, todo esse sistema precisa mudar, mas enquanto as mudanças não chegam eu quero falar com as mulheres.

O homem com quem você se casou é capaz de ligar uma máquina de lavar, de colocar a roupa na corda, de esquentar a própria de comida, de arrumar a cama, de ler a agenda do filho, de escrever recado para os professores. Inacreditavelmente tudo que você faz ele também é capaz de fazer. Portanto, deixe que faça.

Você não é mãe do seu marido. Não o trate como filho. E mais: também não trate seu filho, principalmente se for um menino, como se fosse incapaz de realizar tarefas domésticas. Lavar a própria louça, recolher o lixo, arrumar a cama é educação. Não precisa esperar que peçam, não precisa esperar a empregada fazer. Ensinem a independência, o autocuidado, a ajuda mútua.

Você não precisa fazer tudo sozinha. Não tem que fazer tudo sozinha. Se o amor da sua vida ainda não faz por iniciativa própria, peça. Isso mesmo: peça. Não precisa gritar, não precisa espernear, não precisa reclamar nem lamuriar.

Gritar “você não faz nada”, “tudo eu”, ‘sempre que eu faço”, “estou cansada de fazer tudo sozinha”, por mais que seja a mais pura verdade, só vai dificultar ainda mais as coisas. Peça ajuda. Diga que ele é melhor em matemática e pode ajudar o filho com o dever de casa. A caminho do trabalho ligue e já avisa que ele precisa esquentar a comida. Enquanto faz comida, peça que arrume a mesa. Combine que um faz a combina e o outro lave a louça.

Culturalmente somos educadas a ser donas de casa e cuidar dos maridos, mas a vida mudou. Também trabalhamos fora de casa, temos uma vida profissional, estudamos e estamos tão ocupadas quanto nossos parceiros. Então, se somos capazes de trabalhar fora como eles, eles são capazes de trabalhar dentro de casa como as mulheres sempre fizeram.

Vejo homens que já viveram sozinhos, que faziam de tudo, não fazerem absolutamente nada depois de casados. Que não sabem onde estão guardados os utensílios. Não permitam isso. Homens podem, e devem contribuir com os afazeres domésticos. Isso não é coisa de mulher. É coisa de gente adulta, madura, que precisa organizar a vida. E a casa.

Marido é uma coisa, filho é outra. Quando as relações não têm seu papel definido tendem a se deteriorar. Portanto, não ser responsável por tudo sozinha é também uma maneira de preservar a relação, de manter o amor, o respeito e a admiração pelo parceiro. Não assuma toda a responsabilidade pela relação, pela casa e pela vida da família. Relações servem para criar laços, parceria e rede de ajuda mútua.

Trate seu marido como o adulto que ele é.

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Aprendendo a ser mãe

Já passou muito tempo e não lembro com exatidão dos primeiros meses. Mas recordo que nas primeiras semanas eu não ouvia o choro do meu filho de madrugada, a amamentação foi difícil e eu me desesperava constantemente. Se a maternidade é algo tão natural, tão instintivo, toda mulher já nasce sabendo, como eu tinha tanto medo de não dar conta? Eu só podia ser uma péssima mãe, pensava.

Certa de que algo errado havia comigo eu fui estudar. Comprei livros sobre a vida do bebê, fases no desenvolvimento da criança, educação infantil. Mas na prática a teoria é outra. E isso foi ótimo para mim. Acreditar que eu não era a melhor mãe do mundo me fez um pouco melhor do que muitas delas. Eu não viraria mãe da noite para o dia, precisava aprender a ser uma.

Amo meu filho com toda a minha alma e coração, mesmo antes de conhecer o seu rosto, mas quando o tive em meus braços eu não tinha a menor ideia do que era o certo a fazer. Fui aprendendo aos poucos. E fui aprendendo com ele.

Ter a ajuda da minha mãe, incansável na arte de proteger sua filha e um neto recém-nascido, tornou as coisas menos difíceis. Ela se preocupava com o neto, claro. Mas estava mais preocupada com a mãe que sua filha acabara de se tornar. Se essa mãe precisava se alimentar, tomar banho ou ir ao banheiro. E jamais interferiu no tipo de educação que eu desejava dar ao me filho, delimitando o espaço de cada uma de nós na vida daquela pessoa que acabara de nascer.

Meu filho não é mais criança e, diferente de muitas mães, eu não convivo com a culpa. Quer dizer, não com muita. Tenho certeza de que até hoje eu fiz o melhor que poderia ter feito. Curti cada fase, participei de todas as atividades que pude, ensinei o que julguei necessário e, sobretudo, disse milhares de vezes que não sabia qual era o certo a fazer. Que eu estava aprendendo também.

Ser mãe é uma experiência transformadora, porque amar alguém é algo surpreendente. Permite que a gente olhe o mundo de outra maneira, reveja pontos de vista, desconstrua certezas, busque novas alternativas e se coloque no lugar do outro. Em relação a maternidade, hoje, olhando para trás, eu acho que muito mais importante do que uma educação rígida e um arsenal de normas a serem cumpridas, é conquistar a confiança das crianças.

A confiança é base de todo e qualquer relacionamento. E confiamos naqueles que dizem a verdade, que se mostram inseguros nos momentos de fraqueza, pedem desculpas, dizem o que sentem e estão desarmados diante da vida. Mãe também é gente. Não é rainha, super-herói, vidente, mágica nem bruxa.

Dito isso, mães devem chorar. Pedir ajuda. Ficar em dúvida sobre o melhor a fazer. Conversar com outras mulheres para entender que a maternidade é desesperadora para todas, pelo menos em algum momento da vida. E aceitar que não existe uma única maneira de ser mãe, pois cada criança é única e exige um tipo de atenção diferente.

Mães não nascem prontas. Eu, até hoje, estou aprendendo a ser uma.

Crônica publicada, no dia 14 de maio de 2017, no blog de Giseli Rodrigues.

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