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Estamos todos exaustos?

Estou prestes a completar um novo ciclo, a fazer mais um ano de vida e, com isso, surgem as reflexões. Talvez isso seja apenas uma desculpa e uma maneira de iniciar este texto, já que tem tanto tempo que não escrevo que nem sei mais iniciar um parágrafo. Talvez seja só uma forma de anunciar que meu aniversário está próximo para ganhar felicitações e presentes.

Mas antes de continuar eu preciso perguntar: você anda exausto?

Eu ando exausta.

Mas, pensando sobre isso, eu percebi que não sou a única. Muitas pessoas com as quais convivo estão assim. Cansadas, apáticas, com pouca energia e mesmo descansando e aproveitando algumas horas de lazer não se sentem revigoradas. E, se estamos todos exaustos, penso eu que não seja um sintoma individual, mas social.

Acho que fui longe demais e vou tentar explicar. Se várias pessoas estão exaustas, não seria um problema estrutural? Essa exaustão e fadiga não são resultados da forma como vivemos hoje? Será que não estamos tão envolvidos no nosso dia a dia, tendo que dar conta de tanta coisa que já entramos no automático?

Não tenho respostas. Só perguntas. Mas todo esse cansaço que tenho em mim e vejo nos outros pode ser um alerta do nosso corpo mostrando que estamos atropelando a nossa essência e desumanizando a nossa existência.

Talvez seja só uma crise existencial.

Ou não.

Crônica publicada em 20 de junho de 2023 por Giseli Rodrigues em seu blog pessoal.

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Não se culpe por fazer o que dá

Com o fim de um ano e início de outro, vem toda aquela pressão para avaliar as conquistas e traçar novas metas. O que você fez? O que quer em 2023? Como cumprir as resoluções de ano novo? São matérias, textos e posts, de pessoas bem-intencionadas até, incentivando que cada um de nós faça um ano realmente novo.

No final do ano, avaliando tudo que passei, eu me frustrei constatando que não consegui cumprir as metas que EU havia determinado para mim mesma. Não fiz o que queria. Admitir que nem sempre conseguimos fazer as coisas que nos propomos não é fácil. Eu ainda estou aqui, digerindo meus objetivos inalcançadas, e pensando quais deles trarei para o ano novo – já que não sou mais a mesma pessoa, não tenho a mesma rotina e, como na vida de todo mundo, surgiram outras prioridades.

Que eu não fiz tudo que queria eu já sei. Mas, ao avaliar o que fiz durante o ano eu me dei conta de que conquistei várias coisas que nem havia listado. E essa é a razão da minha escrita hoje: precisamos reconhecer o que fazemos e nos alegrar com todas as conquistas. Elas não são menos importantes por não estarem nas “resoluções de ano novo”. Por que não valorizamos tudo o que fazemos? Por que temos dificuldade de reconhecer nossas vitórias? Por que nos prendemos mais aos fracasso do que ao sucesso?

Preocupados em cumprir metas, não celebramos o que deu para fazer. E o que deu para fazer não significa que tenha sido algo mal feito, sem importância ou irrelevante. A vida não é um trilho, é uma trilha, onde mais elementos vão sendo adicionados no caminho. Temo que superar desafios, rever os planos, dar conta de imprevistos e seguir em frente. E temos que fazer acontecer (seja lá o que isso signifique para cada um) da melhor forma possível.

Uma vez ouvi de uma pessoa a seguinte frase: “precisamos lidar com a realidade”. E a realidade, embora frustrante, é que nem sempre vamos conquistar tudo o que queremos. Algumas vezes nos culpamos por fazer “só” o que deu, sem considerar que foi feita muita coisa e talvez até com mais complexidade do que havíamos planejado. Em alguns momentos fazer o possível é tudo o que podemos. É o melhor que podemos.

Um ano novinho começou para traçarmos planos e realizá-los, mas, principalmente, para fazermos coisas que nem conseguimos imaginar agora. Não se culpe por fazer o que dá. Fazer o que dá já é muita coisa.

Feliz 2023!

Crônica publicada por Giseli Rodrigues, em 7 de janeiro de 2023, em seu blog pessoal.

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Quanto tempo ainda nos resta?

A única certeza que temos é de que iremos morrer algum dia. Não sabemos como, nem quando, nem onde. A cada novo amanhecer não sabemos se estamos vivendo mais um dia ou menos um dia – provavelmente os dois, dependendo da perspectiva. Pouco falamos sobre morte, não gostamos de falar sobre ela e não planejamos como vai ser a vida quando não estivermos mais aqui.

A morte é uma tragédia. Só quem já viveu a perda de um ente querido conhece essa dor. Não encontro palavras para descrever, porque simplesmente não há. Um novo mundo passa a existir a partir da morte de alguém que faz parte da nossa vida. Rituais que eram importantes passam a não ter significado, coisas simples e cotidianas povoam nossa memória, a saudade surge em momentos inimagináveis.

Pessoas que fazem parte das nossas vidas, que ajudaram a construir nossa história, não são substituíveis. Elas vivem para sempre dentro de nós. Há algo delas em nós. Por mais que a pessoa não exista fisicamente, ela continua existindo. E continuará existindo enquanto fizer parte das nossas lembranças, memórias, experiências. Continuará enquanto estivermos vivos.

Por outro lado, falar de morte é falar da vida. Se não há para onde fugir, de que maneira queremos ser lembrados quando não estivermos aqui? O que queremos deixar para quem amamos? Que tipo de relações desejamos construir e manter? Ao lado de quais pessoas queremos viver momentos e construir lembranças? O que desejamos da vida?

Hoje passei a manhã vendo notícias do temporal que aconteceu em Petrópolis, no dia 15 de fevereiro de 2022, e isso mexeu muito comigo. Não foi a primeira tragédia e, infelizmente, não será a última. Famílias destruídas, 58 mortos até o momento em que vi a reportagem e um número desconhecido de desaparecidos.

Pessoas voltando do trabalho, da escola, assistindo televisão em casa, fazendo uma atividade doméstica ou qualquer outra coisa cotidiana numa terça-feira comum e, de repente, ela é atingida por uma forte chuva e não existe mais. Nenhum de nós imagina uma morte assim, nenhum de nós quer passar por uma tragédia, mas nenhum de nós sabe quando chegará o fim. E, inevitavelmente, ele chegará.

Como já escreveu Bukowski, “todos morrem um dia, é simples matemática. Nada de novo. A espera é que é um problema.” De que maneira estamos esperando? O que estamos fazendo durante o intervalo? Se morrêssemos hoje, teríamos orgulho do que construímos? De que maneira seríamos lembrados?

Eu sei que diante da necessidade de lutar pela vida, sobretudo num país como o nosso, muitas pessoas não conseguem viver. Mas se você é uma das pessoas que pode, encontre uma brecha entre os compromissos, responsabilidades e obrigações para fazer coisas que te deem prazer, estar com pessoas que admira, criar momentos com quem você ama. Elogie as pessoas, diga eu te amo, compartilhe o que sabe.

Ninguém sabe quanto tempo ainda resta, mas no dia em que você não estiver mais aqui (e eu desejo que este dia demore bastante a chegar) não é dos momentos especiais que terão saudade, mas dos momentos simples e cotidianos que um dia compartilharam. Busque a sua felicidade. É sendo feliz que você fará feliz quem te ama. E aqueles que te amam lembrarão de você eternamente.

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O que te faz ficar?

Li recentemente que o Brasil registrou um novo recorde de divórcios no primeiro semestre de 2021. De acordo com dados do Colégio Notarial do Brasil, de janeiro a junho de 2021, foram 37.083 divórcios, um aumento de 24% em relação ao primeiro semestre de 2020.

Quem me conhece sabe que considero a possibilidade de se divorciar uma conquista muito importante. Ficar casado a vida inteira, como nossos antigos avós faziam, não é sinônimo de felicidade. Todos nós conhecemos histórias de mulheres que sofrem violência doméstica, que viveram relacionamentos infelizes, mas não podiam se separar. Esse texto, no entanto, não é sobre isso.

Este texto é sobre as pessoas que, contrariando as estatísticas, permaneceram junto dos seus parceiros. Pessoas que, em algum momento, podem ter pensado em se separar, mas concluíram que o relacionamento valia a pena, que era importante, que desejava ficar. E a minha pergunta é: o que te faz ficar nessa relação?

Somos todos seres imperfeitos e nos relacionamos com pessoas imperfeitas. Chatas. Mandonas. Teimosas. Convencidas. Ansiosas. Inseguras. Dramáticas. Gastadeiras. Implicantes. Quietas. Falantes. Eu não conheço a pessoa com quem você convive e qual (ou quais) característica te incomoda. Mas tem uma. Ou mais de uma.

Essa mesma pessoa, no entanto, tem características que te agradam, que te enchem de orgulho, que te fazem acreditar no amor, que fazem com que você decida ficar. Dia após dia. Mês após mês. Ano após ano. E quanto tempo isso faz? Há quanto tempo estão juntos? O que te encantou, lá no início? Por que decidiu dividir a vida com essa pessoa?

Agora, depois de passado algum tempo, ela é a mesma pessoa? O que mudou? O que ainda permanece? O quanto você mudou? O quanto dessa pessoa há em você? E, passadas tantas experiências juntos, boas e ruins, o que te fez ficar, mesmo com toda possibilidade de ir embora? Você já parou para pensar sobre isso?

O amor é importante, claro. Se o casal se ama – ou ainda se ama – tem aí uma grande vantagem. Mas um relacionamento duradouro é construído diariamente por pessoas que, apesar de toda a facilidade de ir embora, resolvem ficar. Decidem compartilhar planos, sonhos e viver juntos quando poderia ser mais fácil estarem separados.

O amor é uma coisa boa, mas não é uma coisa fácil. Se você está feliz com quem ama não considere isso pouca coisa. Celebre a decisão de ficar. Demonstre a felicidade de ficar.

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Como melhorar a vida a dois

Se você começou a ler esse texto pensando em encontrar fórmulas prontas, pode parar por aqui. Quando se trata de relacionamento, qualquer que seja ele, não existe receita, bula, fórmula ou mágica. Existe comprometimento, vontade de fazer dar certo e muito amor. Então esse texto nem precisaria ser escrito, certo? Errado. O óbvio também precisa ser dito.

Dividir a vida com alguém é um desafio, os casais podem confirmar. Mas quando a gente se apaixona e comete a loucura de morar sob o mesmo teto, juntar as escovas de dentes e compartilhar a vida, começa a ter a real compreensão do que é um relacionamento e a ver as relações familiares sob uma nova perspectiva.

Cada um foi criado de uma maneira, são mundos distintos que se unem e, em algum momento, isso traz conflitos. Passada a paixão, as diferenças trarão conflitos. Mas se há amor e maturidade também haverá aprendizado, crescimento e consolidação da relação. De todas as coisas que lemos sobre relacionamento, a mais verdadeira e importante é que o amor se constrói no dia a dia. Todos os dias.

É fundamental expressar o que incomoda, mas essencial reconhecer que o outro não é uma extensão de si mesmo e não nasceu para suprir as suas expectativas. Pense nas coisas que realmente são importantes e que fazem diferença no dia a dia, não fique discutindo o que não é primordial. Vários relacionamentos se desgastam por pequenas discussões desnecessárias.

Tão importante quanto falar o que desagrada, é reconhecer o que é positivo. Com o passar dos anos o hábito de agradecer ao outro por pequenas gentilezas e reconhecer os méritos acaba sendo esquecido, recupere isso. Elogie, agradeça, reconheça. Não acredite que o outro já sabe o que você acha.

Estar junto precisa significar parceria, amizade, confiança e cumplicidade. E talvez esteja aqui a grande lição deste texto: isso não depende só de você. Ame, se comprometa, se dedique, demonstre amor, mas não insista em uma relação que não é recíproca. Por maior que seja o amor, não dá para amar pelos dois.

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